sexta-feira, 6 de março de 2009

Ao sabor da crônica!

Você sabe o que vem a ser uma CRÔNICA?

Estivemos trabalhando esse gênero textual com as turmas da 7a. série (A e B).

Em breve publicaremos as produções, mas... enquanto isso, vamos saborerar as crônicas de Veríssimo?

7ª. série:
Foco:


Crônica
Reflexões sobre preconceito social e étnico

Argumentação

Discurso direto

Povo


_ Geneci...
_ Senhora?
_ Preciso falar com você.
_ O que foi? O almoço não estava bom?
_ O almoço estava ótimo. Não é isso. Precisamos conversar.
_ Aqui na cozinha?
_ Aqui mesmo. O seu patrão não pode ouvir.
_ Sim senhora. Mas se a senhora quiser que eu venha na terça...
_ Não é isso, Geneci!
_ Desculpe.
_ É que eu... Geneci, eu queria sair na sua escola.
_ Mas...
_ Ou fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Não aguento ficar fora do Carnaval.
_ Mas...
_ Vocês não têm, sei lá, uma ala das patroas? Qualquer coisa.
_ Se a senhora tivesse me falado antes...
_ Eu sei. Agora é tarde. Para a fantasia e tudo o mais. Mas eu improviso uma baiana. Deusa grega, que é só um lençol.
_ Não sei...
_ Saio na bateria. Empurrando alegoria.
_ Olhe que não é fácil...
_ Eu sei! Mas eu quero participar. Eu até sambo direitinho. Você nunca me viu sambar? Nos bailes do clube, por exemplo. Toca um samba e lá vou eu. Até acho que tenho um pé na cozinha. Quer dizer. Desculpe.
_ Tudo bem.
_ Eu também sou povo, Geneci! Quando vejo uma escola passar, fico toda arrepiada.
_ Mas a senhora pode assistir.
_ Mas eu quero participar, você não entende? No meio da massa. Sentir o que o povo sente. Vibrar, cantar, pular, suar.
_ Olhe...
_ Por que só vocês podem ser povo? Eu também tenho direito.
_ Não sei...
_ Se precisar pagar, eu pago.
_ Não é isso. É que...
_ Está bem olhe aqui. Não preciso nem sair na avenida. Posso costurar. Ajudar a organizar o pessoal. Ajudar no transporte. O Alfa Romeo está aí mesmo. Tem a Caravan, se o patrão não der falta. É a emoção de participar que me interessa, entende? Poder dizer “a minha escola...”. Eu teria assunto para o resto do ano. Minhas amigas ficariam loucas de inveja. Alguns iam torcer o nariz, claro. Mas eu não sou assim. Eu sou legal. Eu não sou legal com você, Geneci? Sempre tratei você de igual para igual.
_ Tratou, sim senhora.
_ Meu Deus, a ama-de-leite da minha mãe era preta!
_ Sim, senhora.
_ Geneci, é um favor que você me faz. Em nome da nossa velha amizade. Faço qualquer coisa pela nossa escola, Geneci.
_ Bom, se a senhora está mesmo disposta...
_ Qualquer coisa, Geneci.
_ É que o Rudinei e Fátima Araci não têm com quem ficar.
_ Quem?
_ Minhas crianças.
_ Ah.
_ Se a senhora pudesse ficar com eles enquanto eu desfilo...
_ Certo. Bom. Vou pensar. Depois a gente vê.
_ Eu posso trazer elas e...
_ Já disse que vou pensar, Geneci. Sirva o cafezinho na sala.


(Luis Fernando Veríssimo. A mãe do Freud. Porto Alegre: L&PM)

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Produção de aluno (em breve).

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